BRONZE (x,x g/20,00 mm)
(Moeda de Bronze cunhada em Amisos, no Reinado do Ponto.)
ANO: 85 - 65 a.C.
ANVERSO: Aegis com cabeça de Górgona Medusa no centro.
REVERSO: Nike à direita, segurando longo galho de palmeira sobre os ombros.
LEGENDA: AMI / ΣOY


ESTUDANDO A MOEDA:
‘’AEGIS’’: A Égide (em grego: Αιγίς; transl.: Aegis) era, na mitologia grega, o escudo mágico que Zeus utilizou em sua luta contra os titãs, e que lhe dava grande defesa pessoal. A Égide tinha uma figura gorgônica em relevo, o que o tornava amedrontador para seus inimigos. O Égide foi feito por Hefesto. Em outras versões, Égide é uma armadura confecionada pelo próprio Zeus com a pele da cabra Amalteia. Zeus cedeu a Égide à sua filha Atena, que o revestiu com a pele da Medusa, morta por Perseu.

GÓRGONA: Górgona (em grego: Γοργών ou Γοργώ, transl. Gorgón ou Gorgó) é uma criatura da mitologia grega, representada como um monstro feroz, de aspecto feminino, e com grandes presas. Tinha o poder de transformar todos que olhassem para ela em pedra, o que fazia que, muitas vezes, imagens suas fossem utilizadas como uma forma de amuleto. A górgona também vestia um cinto de serpentes entrelaçadas.
Na mitologia grega tardia, dizia-se que existiam três górgonas: as três filhas de Fórcis e Ceto. Seus nomes eram Medusa, "a impetuosa", Esteno, "a que oprime" e Euríale, "a que está ao largo". Como a mãe, as górgonas eram extremamente belas e seus cabelos eram invejáveis; todavia, eram desregradas e sem escrúpulos. Isso causou a irritação dos demais deuses, principalmente de Atena, a deusa da sabedoria, que se admirou de ver que a beleza das górgonas as fazia exatamente idênticas a ela.

Medusa, obra de Bernini. Museus Capitolinos, Roma
Atena então, para não permitir que deusas iguais a ela mostrassem um comportamento maligno, tão diferente do seu, deformou-lhes a aparência, determinada a diferenciar-se. Atena transformou os belos cachos das irmãs em ninhos de serpentes letais e violentas, que picavam suas faces. Transformou seus belos dentes em presas de javalis, e fez com que seus pés e mãos macias se tornassem em bronze frio e pesado. Cobrindo suas peles com escamas douradas e para terminar, Atena condenou-as a transformar em pedra tudo aquilo que pudesse contemplar seus olhos. Assim, o belo olhar das górgonas se transformou em algo perigoso. Em outras versões, somente Medusa tinha os cabelos de serpentes, suas irmãs eram cegas e para enxergar, partilhavam o mesmo olho.
Envergonhadas e desesperadas por seu infortúnio, as górgonas fugiram para o Ocidente, e se esconderem na Ciméria, conhecido como "o país da noite eterna".
Mesmo monstruosa, Medusa foi assediada por Poseídon, que amava Atena. Para vingar-se, Medusa cedeu e Poseídon desposou-a. Após isso, Poseídon fez com que Atena soubesse que ele tivera aquela que era sua semelhante. Atena sentiu-se tão ultrajada que tomou de Medusa sua imortalidade, fazendo-a a única mortal entre as górgonas. Em outras versões, Atena amaldiçoou as górgonas justamente porque quando Medusa ainda era bela, ela e Possídon se uniram em um templo de Atena, a deusa ficou ultrajada e as amaldiçoou.
Mais tarde, Perseu, filho de Zeus e da princesa Dânae, contou com a ajuda de Atena para encontrar Medusa e cortar a sua cabeça, com a qual realizou prodígios. Pois mesmo depois de morta, a cabeça continuava viva e aquele que a olhasse nos olhos se tornava pedra.
NIKE: Niké,(em grego Νίκη, Níkē ou Niké – "Vitória") era uma deusa grega que personificava a vitória, representada por uma mulher alada. Os romanos designaram o nome de Victória para Nice. Nice também pode representar asas. Seres alados.
Nos Jogos Olímpicos de Verão de 2004, em Atenas, a imagem da deusa veio cunhada nas medalhas (ouro, prata e bronze) com referencia a Deusa Minerva, A Deusa da estratégia e das batalhas. Essa imagem da deusa nas medalhas vem de uma escultura em mármore do século V, a.C., feita pelo escultor Peônio. A mais famosa imagem de deusa é a de Samotrácia, exposta no museu do Louvre, em Paris. A outra face da medalha mostra a chama da tocha olímpica, uma citação do poeta grego Píndaro, o emblema dos jogos e o nome do esporte a que ela é destinada.
A deusa se encontra na mão direita de Atena, dando assim à deusa certeza de vitória em todas as batalhas travadas. Atena, em sua história, várias vezes já travou grandes batalhas contra deuses que desejavam para si a Níkē, e, graças à deusa alada, Atena sempre as venceu.

Baixo-relevo de Niké em Éfeso.
REINO DO PONTO
O Reino do Ponto foi um antigo Estado helenístico, localizado a norte da península da Anatólia, na atual Turquia. O Ponto é uma região da costa sul do Mar Negro, chamado Ponto Euxino pelos jónios, povo grego que explorou e colonizou as costas da Anatólia no final da Idade das Trevas da Grécia, até ao século VIII a.C.. O nome chegou a referir-se especificamente à área noroeste da Anatólia na Época Clássica da Grécia, sendo assim mencionado por Xenofonte no seu Anabasis.
A região do mar Negro tem uma costa rochosa, com pequenos rios que caem em cascata através de gargantas. Uns poucos rios são mais compridos, atravessando as cordilheiras do Ponto, com afluentes caudalosos de alta montanha. O acesso da costa ao interior está limitado a vales estreitos, porque as montanhas, com altitudes de 1500 a 1800 metros no oeste, e 3000 a 4000 metros no leste, formam uma parede quase contínua, que separa a costa do interior. Por causa destas condições naturais, a costa do mar Negro esteve historicamente isolada do interior da Anatólia.
O leste do Ponto é desértico e rico em minerais, enquanto que o oeste é irrigado pelos rios Halys, Íris, e seus afluentes, o que torna a zona rica e cultivável, além de ter boas comunicações pela rede viária construída pelos sucessivos soberanos.

De origem era uma satrapia do Império Persa. Em 363 a.C., o sátrapa Ariobarzanes II de Cio conseguiu submeter as tribos do interior e estabilizar a satrapia. Em 334 a.C., Alexandre Magno iniciou as suas campanhas na Anatólia e depois das batalhas de Granico e de Isso, o poder da Pérsia na região foi derrubado. A região do Ponto no foi ocupada pelos exércitos gregos, gerando-se um vazio de poder que consolidou Mitrídates II de Cio como governador.
Depois da morte de Alexandre, a Ásia Menor foi atribuída a Antígono Monoftalmos pelo tratado de Triparadiso de 321 a.C.. Em 301 a.C., Antígono foi vencido por Seleuco I Nicator na Batalha de Ipso, mas este não ocupou imediatamente Ásia Menor. o centro e o oeste foram anexados por Lisímaco, que já governava a Trácia. Nestas circunstâncias, Mitrídates II aproveitou as disputas entre os diádocos para se declarar independente e expandir os seus domínios, mantendo longas guerras, mal conhecidas, com os selêucidas.
O seu filho Mitrídates I Ktistés teve que fugir com alguns partidários para a fortaleza de Cimiata, na Paflagónia. Depois da derrota das forças de Antígono e Demetrio I na batalha de Ipso, Mitrídates consolidou o seu poder lutando durante vinte anos contra os selêucidas. Até regressar a Sinop e autoproclamar-se no ano 281 a.C. rei do Ponto (Βασιλεύς, basileus). A sua dinastia perdurou até 64 a.C.. Deste modo uma dinastia persa conseguiu sobreviver no mundo helenístico, enquanto que o Império Persa não o pôde fazer.
A partir de Mitrídates III do Ponto, o reino começou a expandir-se. A expansão foi progressiva, começando pela costa este e seguindo pela costa norte do mar Negro, incluindo a Crimeia. Mitrídates V Evergetes recebeu a Frígia de Roma, mas foi arrebatada ao seu sucessor Mitrídates VI. Este empreendeu uma luta sem quartel contra os romanos durante décadas, sendo finalmente vencido por Pompeu, e o reino anexado progressivamente a Roma. A metade ocidental foi anexada primeiro à província da Bitínia, formando a dupla província de Ponto e Bitínia. A metade oriental foi entregue ao gálata Dejotaros, embora voltasse a ser independente temporalmente sob Farnaces II, e voltou a unir-se à Galácia por um breve período (47 a.C.-41 a.C.). Com a morte de Dejotaros, o Reino do Ponto teve durante alguns anos reis-fantoche impostos por Roma, até à sua anexação definitiva em 63 com a sua união à província da Galácia-Capadócia.
No ano 62, Nero dividiu o país em três províncias: Ponto Galático, no oeste; Ponto Polemaníaco, no centro; e Ponto Capadócio, no este. Em 295, Diocleciano estabeleceu quatro províncias: Paflagónia, Diosponto, Ponto Polemaníaco, e Arménia Menor. Severo Alexandre uniu-o à Galácia numa só província, desde 248 hasta 279. No início do século IV, voltou ao sistema de duas províncias: Diosponto e Ponto Polemaníaco, permanecendo assim até o Império Bizantino.
MITRÍDATES VI

Mitrídates VI Eupátor Dionísio, também conhecido como Mitrídates, o Grande, foi o rei do Ponto mais célebre e um dos mais formidáveis e bem sucedidos inimigos de Roma, havendo enfrentado três dos melhores generais romanos dos fins da República: Sila, Lúculo e Pompeu. Levou o Reino do Ponto ao seu apogeu e com ele sucumbiu.
Mitrídates VI (imagem ao lado caracterizado como Hércules) era filho de Mitrídates V do Ponto com Laodice VI, filha do rei grego da Síria, Antíoco IV Epífanes. Nasceu em 132 a.C. em Sinope. Quando da morte de seu pai (provavelmente assassinado por instigação da mãe), tinha cerca de onze/doze anos e, embora associado ao trono, a regência do Ponto ficou nas mãos de sua mãe, a qual parecia ser mais favorável ao seu irmão mais novo, Mitrídates Cresto. Temendo por sua vida, Mitrídates exilou-se na região montanhosa do Ponto; dedica-se à caça e aos estudos. Esse é o chamado período "heroico" de sua vida, onde adquire força e resistência física; aprende idiomas e conhece sua terra e adjacências. Durante sua menoridade, os romanos retiraram do Ponto o domínio da Frígia Maior; foi o princípio da inimizade crescente de Mitrídates contra os filhos de Roma.
O contexto conspiracional da corte no Ponto parece ter levado Mitrídates a ingerir pequenas doses de veneno no decorrer de sua vida para que seu organismo adquirisse imunidade contra tentativas de envenenamento. Tal prática passou a ser chamada de mitridatismo. Em cerca de 115 a.C. retorna à Sinope onde logrou ascender ao trono lançando sua mãe na prisão; associou seu irmão Mitrídates Cresto ao governo assassinando-o depois. Casa-se com sua irmã, Laodice. Tinha cerca de 20 anos quando de sua ascensão e rodeou-se de conselheiros gregos. Diz-se que sua irmã-esposa também tentou envenená-lo; por fim, Mitrídates a mandou matar e teve muitas outras mulheres.
Abaixo, o Reino do Ponto nos primórdios do governo de Mitrídates VI em 100 a.C. onde ele já controla a Cólquida e o Bósforo. Mitrídates extravasou suas ambições querendo fazer de seu reino o poder dominante no Mar Negro e Anatólia

Esciluro, reis dos Citas, que procurara aumentar seu controle da região norte do Mar Negro atacando o Reino do Bósforo (atual Península da Criméia e adjacências) com a ajuda dos Roxolanos. O Rei Perisades V solicita auxílio à Mitrídates que envia uma expedição comandada por Diofanto, grande general e geógrafo prestigioso, que liberta a importante cidade de Quersoneso submetendo os Citas e aliados. O Reino do Bósforo prontamente rende a sua independência em troca das promessas de Mitrídates de protegê-los contra o Citas, os seus antigos inimigos.

Esciluro
Após o retorno de Diofanto, Palaco filho de Esciluro, lidera novo ataque juntamente com os roxolanos. Diofanto retorna novamente com cerca de 6000 homens e derrota tanto os citas como os roxolanos e seu rei Tásio que tinham um exército com um número de homens bem superior. Por fim, os citas e os roxolanos aceitam Mitrídates como seu chefe supremo. Sendo assim Mitrídates controla praticamente todo Mar Negro e a Estepe pôntica. O jovem rei então virou a sua atenção para a Anatólia, onde o poder romano estava em ascensão. A irmã de Mitrídates, Laodice, era esposa do rei da Capadócia, Ariarates VI. Por instigação do rei do Ponto, o nobre capadócio Górdio assassina o rei. Ladocice governa como regente e casa-se com o Rei Nicomedes III da Bitínia o qual partilha a Paflagônia e a Galácia com Mitrídates. Este percebeu que o sucessor de Nicomedes III, Nicomedes IV, dirigia o seu país a uma aliança contra o Reino do Ponto com a República Romana que se expande na Ásia. Quando Mitrídates tomou de Nicomedes o controle da Capadócia e o derrotou em uma série de batalhas, o último foi forçado a buscar abertamente a ajuda de Roma. Sendo assim em 90 a. C., Mitrídates passa a controlar tanto a Bitínia como a Capadócia com a ajuda do reino da Armênia. O rei da Armênia, Tigranes, o Grande, havia casado com a filha de Mitrídates VI, Cleópatra, e com essa aliança estabeleceram a Armênia como potência no Oriente Médio e o Ponto na Anatólia.
Quando Mânio Aquílio, o comandante romano da Ásia Menor, chegou, Mitrídates cedeu ao pedido de Aquílio de retirar-se da Capadócia. Sua petição, que Mitrídates lhe desse parte de suas tropas, foi rejeitada. Então, o romano persuadiu a Nicomedes IVa atacar o Ponto.

Palaco
Em 88 a. C., Mitrídates respondeu ao ataque de Nicomedes com um potente contra-ataque. Seu comandante, Arquelau, provavelmente genro de Mitrídates, derrotou ao exército bitínio na Batalha do Rio Amnias e ao exército romano, sob mando de Aquílio, na Batalla do Monte Scorobas. A frota romana do Mar Negro simplesmente se rendeu. Capadócia, Bitínia e a província romana de Ásia foram arrasadas e muitas antigas cidades gregas, como Pérgamo, Éfeso e Mileto que viviam insatisfeitas com o domínio romano receberam a Arquelau como um libertador. Mitrídates fazia uma propaganda de si mesmo como herdeiro de Alexandre, o Grande, e do rei persa Dario I; ao mesmo tempo em que conservava sua herança iraniana apresentava-se como campeão do Helenismo contra a intromissão dos Romanos.

Nicomedes IV
Abaixo, expansão do Reino do Ponto entre 281 a.C. até a primeira guerra mitridática (88-84 a.C.)

Quando Mitrídates chegou ordenou o assassinato de todos os romanos (e até quem falasse latim) que estivessem na Ásia. Segundo as fontes históricas, entre 80.000 e 100.000 pessoas foram executadas em umas jornadas conhecidas como as "Vésperas Asiáticas" (vesper em latim significa tarde). Só na ilha de Cós foram eles poupados. Em Éfeso, Rutílio, que constantemente se havia oposto as extorsões dos coletores de impostes romanos, foi protegido. L. Cássio achou asilo entre os habitantes de Rodes, que, com os de Magnésia, eram os únicos Asiáticos fiéis aos Romanos. Mitrídates foi pessoalmente sitiar a capital de Rodes; mas foram seus ataques repelidos. Estes acontecimentos forçaram a uma união irrevogável do destino destas cidades gregas asiáticas e de Mitrídades, pois estas sabiam que haveria uma revanche romana. Arquelau foi enviado à Grécia, colocando o filósofo Arístion como tirano de Atenas.O poder do Ponto estende-se sob a Hélade. A Macedônia não caiu sob o poder dos exércitos pônticos, pois o pretor Lúcio Sura conseguiu deter seu avanço na Beócia e na Tessália.
Abaixo, os territórios da República Romana e a extensão do Reino de Mitrídates e seus aliados quando da primeira guerra mitridática.

Em 87 a. C., o cônsul Lúcio Cornélio Sila, desembarcou no Épiro (Grécia ocidental) com cinco legiões e marchou sobre Atenas. Penetrando na Ática através da Beócia, Sila se juntou com a maior parte das cidades que se uniam a sua causa, destacando entre todas Tebas. A maior parte do Peloponeso o seguiria pouco depois de uma vitória mencionada por Pausânias e Memnon. Atenas, no entanto, se manteve leal a Mitrídates, apesar do terrível assédio a que foi submetida no inverno de 87-86 a. C. Finalmente Sila capturou Atenas em 1º de março de 86 a. C., porém Arquelau evacuou o Pireu e desembarcou na Beócia, onde foi derrotado na Batalha de Queronéia. Simultaneamente, Licínio Lúculo, legado de Sila, derrotava a frota mitridática na ilha de Tenedos.

Lúcio Cornélio Sila
No ano seguinte, Arquelau recebeu suficientes reforços de Dorilau para tornar a enfrentar Sila, porém voltou a ser derrotado na Batalha de Orcómeno. Na ocasião, Roma havia mandado também uma força sob o comando de Lúcio Valério Flaco, que desembarcou na Ásia, onde muitas cidades gregas se haviam rebelado contra Mitrídates. Flaco foi assassinado em Nicomédia na Bitínia num motim dirigido por Caio Flávio Fímbria que havia semeado descontentamento nas tropas por causa da severidade e avareza de Flaco. Fímbria tomou o controle do exército e derrotou as tropas de Mitrídates no rio Ríndaco e quase capturou Mitrídates em Pitane, o qual foi "ajudado" em seu escape por Lúculo a quem enfrentaria mais tarde. Apesar seu aparente sucesso militar Roma haveria de punir insubordinação de Fímbria. A Guerra Social em Roma obrigava Sila a buscar a paz com o Ponto e Mitrídates já havia ordenado a Arquelau a ver essa possibilidade; no entanto, as condições de Sila eram muito pesadas. Então Mitrídates, forçado pelas circunstâncias, encontrou-se com Sila na cidade de Dárdanos em 85 a. C. e firmou o Tratado de Dárdanos, que permitiu manter seu reino. Os termos do tratado obrigaram a Mitrídates ceder seus recentes territórios adquiridos na Grécia e suas ilhas, do mesmo modo que devia abandonar as províncias da Bitínia, Frígia, Paflagônia e Capadócia. Igualmente, Mitrídates devia pagar dois mil talentos de seu tesouro pessoal. Abaixo, moeda comemorativa de Sila das batalhas de Queronéia e Orcómeno.

Fímbria havia aterrorizado a população da Ásia que se aliara a Mitrídates ou apoiava a Sila. Consciente de que não poderia derrotar o grande general, Fimbria se suicidou, facilitando assim o assentamento da autoridade de Sila na Ásia, coisa que fez impondo uma indenização muito elevada junto com cinco anos de impostos "atrasados" às cidades asiáticas, deixando-as enfraquecidas por muito tempo. Sila viu-se forçado a retornar à Itália para enfrentar a ameaça de Caio Mário; a derrota de Mitrídates não fora, portanto, definitiva. Aproveitou a paz celebrada entre Roma e o Ponto para recuperar as suas forças e, quando o general romano Murena atacou o Ponto, Mitrídates revidou com um exército ainda maior, no que viria a ser a Segunda Guerra Mitridática(83 a 81 a.C.).

Mitrídates
Ao finalizar a Primeira Guerra Mitridática, Sila deixou Mitrídates no controle de seu reino, apesar de haver sido derrotado. O cônsul Lúcio Licínio Murena assume a província da Ásia ao comando de duas legiões que faziam parte do contingente dirigido por Caio Fímbria. Murena, que tinha a incumbência de executar as cláusulas do tratado de paz entre Roma e o Ponto, acusou Mitrídates de estar rearmando seus exércitos e invadiu o Ponto em 83 iniciando a Segunda Guerra Mitridática. Quando foi derrotado por Mitrídates em 81 a.C., Murena desistiu de continuar as hostilidades contra o Rei do Ponto seguindo a orientação de Sila. Era um período de grande desordem na República Romana, onde várias guerras civis eclodiam em seus territórios. Mitrídates aproveitou então a oportunidade que surgiu para seu soerguimento e revanche contra Roma. Em 74 a.C., morre Nicomedes IV, rei da Bitínia, e lega seu reino à República Romana que faz da Bitínia uma província. Fortalecido por sua aliança com o rebelde Sertório da Hispânia, que desafiava à República na Península Ibérica, e por sua cumplicidade com os piratas do Mediterrâneo, Mitrídates quebra seu trato com Sila e anexa a Bitínia ao seu reino: inicia-se a Terceira Guerra Mitridática contra Roma.
O Senado incumbe a Lúcio Licínio Lúculo a missão de lutar contra Mitrídates, a quem já havia enfrentado na Primeira Guerra Mitridática. Lúculo estava na região sul da Cilícia e imediatamente foi confrontar o exército pôntico. M. Aurélio Cota por terra e Nudo por mar combatem Mitrídates e são derrotados refugiando-se em Calcedônia onde são sitiados pelos pônticos. Ao chegar ao seu destino em novembro de 73, Lúculo reúne diversas legiões que estiveram combatendo na Ásia Menor. Em vez de ir direto ao Ponto, que estava desguarnecido, Lúculo prefere ajudar seus colegas. Mitrídates com cerca de 300.000 homens tenta ocupar a estratégica cidade de Cizico na Mísia e coloca suas tropas ao pé da montanha de Adrastéia, ao lado oposto da cidade, enquanto seus navios bloqueiam o mar e as pontes que separavam a cidade da terra.

Lúculo
No entanto, as poderosas muralhas e a abundância de provisões da cidade fazem fracassar seu intento. Lúculo bloqueia as vias de provisão de Mitrídates, que por fim acaba retirando suas forças. A lealdade da cidade a Roma foi recompensada por uma expansão de seus territórios e com outros privilégios. Ele levantou uma frota entre as cidades gregas da Ásia, com a qual ele derrotou a frota do inimigo em Ilium e em Lemnos. Após isto, Lúculo volta-se para os combates em terra tendo em vista penetar no Ponto; mas tem o cuidado de não ter um confronto direto com Mitrídates devido à cavalaria superior deste. Depois de várias pequenas batalhas, Lúculo finalmente derrotou-o na Batalha de Cabira (onde Mitrídates tinha um palácio) em 72 a.C. onde desmoralizou o exército pôntico e os derrotou com poucas perdas romanas. Lúculo toma toda a Bitínia a exceção de Nicomédia onde Mitrídates se refugia. Lúculo destrói em dois combates uma esquadra que ele mandara para a Itália. No ultimo desses combates, M. Mário, mandado por Sertório para ajudar ao rei do Ponto, foi preso e morto em meio a suplícios como traidor da pátria. Assim foram destruídos os planos que havia Mitrídates baseado na coincidência de suas operações com as de Sertório na Hispânia e de Espártaco na Itália. Desde então, contentou-se em defender seu reino. Teria sido aprisionado em Nicomédia, sem a negligência de Vocônio Saxa, cuja esquadra bloqueava esse porto. Fugiu por mar, porém sofreu uma furiosa tempestade, e só pode escapar em um frágil esquife. Vendo seus estados invadidos pelos Romanos, pede socorro dos reis dos Partos e da Armênia.

Mitrídates
Este último o respondeu, mas tardou em cumprir sua promessa. Enquanto isso Mitrídates tenta deter em vão seu avanço: o General romano sitia as cidades de Amiso e Eupatória e avança até Termodonte. O rei fugitivo reune no inverno um novo exército de 44.000 homens, entre os povos nômades da Ásia, e com ele passou o rio Lico. No principio da seguinte campanha, em um encontro de cavalaria, obteve ele fraca vantagem, mas dois combates dados na Capadócia em que foram vencedores os Romanos, levaram consternação aos soldados de Mitrídates, que resolveu abandonar seu exército. Na sua fuga desesperada, os soldados se rebelam e seu general Dorilau acaba morto; Mitrídates se salvou devido à dedicação de um de seus criados, que lhe deu seu cavalo. Perseguido pelos Romanos, só escapa, deixando atrás de si uma mula carregada de ouro que entretém os ávidos perseguidores. Mitrídates foi forçado a retirar-se para seu genro, Tigranes, o rei da Armênia, de onde pede as suas irmãs e esposas que se suicidem para não cair nas mãos de Roma.

Tigranes
Sua irmã Monima não conseguindo se enforcar pede a um oficial que a mate. Lúculo e seus auxiliares Cota e Triário completam a conquista do Ponto: Eupatória e Haracléia são destruídas; Amiso, incendiada, apesar da hábil defesa do estratego Calínico; Sinope e Amasa são tomadas.Macares, filho de Mitrídates que reinava no Bósforo, envia embaixadores a Lúculo que firma com ele aliança com Roma (70 a.C). Nessa época a Armênia tinha um grande império no Oriente. Lúculo enviou Ápio Cláudio a Antioquia para exigir que Tigranes entregasse seu sogro; se ele se recusasse, a Armênia enfrentaria a guerra com Roma. Tigranes recusou as exigências de Ápio Cláudio, afirmando que ele se prepararia para a guerra contra a República. O General romano prepara-se imediatamente para uma invasão da Armênia. Embora ele não tivesse nenhum mandato legal do Senado que autorizasse tal movimento, ele tentou justificar a sua invasão distinguindo como o seu inimigo a Tigranes e não os seus súditos. Ele marchou com as suas tropas através da Capadócia e o rio Eufrates e penetrou na província armênia de Tsopk, onde ficava Tigranakert, mais conhecida como Tigranocerta, a capital do Reino. Abaixo, extensão do império armênio sob Tigranes, o Grande entre 95 e 66 a.C.
Tigranes, surpreendeu-se pela velocidade do avanço de Lúculo na Armênia e por ele ter tomado a iniciativa do ataque. Despreparado, com atraso ordena ao general armênio Mitrobarzanes com cerca de 2.000 para 3.000 homens para diminuir o avanço de Lúculo, mas as suas forças foram derrotadas pela cavalaria 1.600 homnes conduzida por um dos legados de Lúculo, Sextílio. Tendo em vista a derrota de Mitrobarzanes, Tigranes confiou a defesa da cidade a Mancaeus e partiu para recrutar homens nas Montanhas Tauros. Enquanto isso, Lúculo investe pondo cerco à Tigranocerta. Após ter destruído as catrafactas (cavalaria armada) armênias, o exército de Tigranes, composto principalmente de camponeses vindos de vários lugares do império, se debanda. Os guardas não armênios da cidade traem Tigranes abrindo as portas da cidade aos romanos. O Rei envia 6.000 ginetes para resgatar tesouros e mulheres. No ano seguinte (68), as forças combinadas do Ponto e da Armênia voltam a enfrentar os romanos em Artaxata. Devido às severas baixas que sofreram os romanos e às duras condições a que estavam submetidos os legionários durante essas campanhas, Lúculo teve que enfrentar o descontentamento das tropas e três motins em 68 e 67 a.C. Frustrado pela indisciplina de suas tropas e a dificuldade do terreno do norte de Armênia, se retirou ao sul e saqueou Nisibis, defendida pelo irmão de Tigranes. As ações de Lúculo não traziam resultados definitivos à guerra e Mitrídates VI Eupátor, o grande inimigo de Roma, continuava livre. Ele retornara ao Ponto com 8.000 homens. Embora com cerca de 70 anos de idade, o rei do Ponto recobra seu vigor e coragem contra seus inimigos e tenta retomar seu reino. Abaixo, disposoção da batalha de Tigranocerta.

Sendo tal a situação, o Senado resolve substituir Lúculo, o qual já estava a vinte anos resolvendo problemas na Ásia. Indicado pelo senador Manílio e apoiado por Júlio César e Marco Túlio Cícero, o substituto é Cneu Pompeu que já era o grande general de Roma na ocasião tendo resolvido muitas querelas militares no Ocidente e eliminado os piratas do Mediterrâneo. Pompeu traz suas próprias legiões de veteranos e penetra na Armênia derrotando a débil resistência que o enfrentou. Após ter seus exércitos remanescentes derrotados no Eufrates e em Nicópolis, Mitrídates foge para Dioscurias na Cólquida, onde invernou (66-65 a. C.).

Pompeu
Pompeu submete os albanos do Cáucaso e o reino da Ibéria caucasiana (Kartli) e penetra na Cólquida. Mitrídates escapou mais uma vez e se refugiou no Bósforo onde seu filhos eram regentes. Pompeu organizou as conquistas, privou ao reino do Ponto das cidades de tipo grego, a exceção de algumas vilas da costa, e as subdividiu em 11 distritos. A partir de 64 a. C., Mitrídates reorganizou seu exército no Bósforo. Seu plano era como o de Aníbal, o general cartaginês inimigo de Roma: lançar os bárbaros contra os romanos. Já havia feito pactos com algumas tribos germanas e sármatas do Danúbio para uma grande ofensiva contra a Itália. Pretendia dar guerra aos romanos em suas terras: planejava atravessar a Trácia, a Macedônia e a Panônia e invadir à Itália pelo norte. No entanto, em 63 a. C., seu filho Farnaces se sublevou começando uma conspiração para retirar o seu pai do poder.

Mitrídates força um de seus guardas a mata-lo
Entretanto, os seus planos foram descobertos, mas o exército, não desejando enfrentar Pompeu e os exércitos romanos, apoiou Farnaces. Eles marcharam contra Mitrídates e forçaram o seu antigo rei a tirar a própria vida. Deve ser lembrada Hypsicratea, a qual era a concubina ou a sexta e mais famosa esposa do Rei Mitrídates. Ela amou tanto seu marido que ela vestiu um disfarce masculino, adquiriu habilidades de guerreiro e o seguiu no exílio. Quando ele foi derrotado e posto em fuga, onde quer que ele buscasse o refúgio, até na solidão mais remota, ela considerou que onde quer que seu marido estivesse, lá ela encontraria a sua monarquia, as suas riquezas, e o seu país, o que foi conforto e consolo a Mitrídates em muitos infortúnios seus. Se dizia que ela o assistia em todos os trabalhos, inclusive os da guerra. Ela montou com ele na batalha, suprimiu rebeliões e lutou contra Roma. Dela se diz ter lutado com machado, lança, espada, arco e flecha.Durante a derrota do Rei Mitrídates por Pompeu, Hypsicratea libertou-se do bloqueio de Pompeu e enquanto o resto dos “súditos” se dispersava ela foi um dos três que permaneceu ao lado do Rei até seus momentos finais. Conforme a lenda, após ser derrotado por Pompeu, Mitrídates tentou o suicídio por envenenamento, sem efeito devido a sua imunidade. Teria, então, forçado um de seus guardas a matá-lo à espada no seu palácio em Panticapeo. Pelo comando de Pompeu, o corpo de Mitrídates foi depois transladado de Panticapeo e enterrado ao lado dos seus antepassados em Sinope. Chegava ao fim assim, um dos maiores inimigos de Roma.

Palácio em Ponticapeo
Mitrídates ganhou destaque na literatura romana antiga que de um modo geral o via como um grande inimigo, cruel e sanguinário, mas que reconhecia suas qualidades bélicas. Mitrídates arrogava-se herdeiro de Alexandre, o Grande, e defensor da civilização grega contra os “bárbaros” romanos. É lhe atribuída uma prodigiosa memória lhe permitia falar vinte e cinco línguas, de modo que podia comunicar-se com cada soldado de seus grandes exércitos no seu próprio idioma. Devido a esta lenda, certos livros que contêm excertos de muitas línguas chamam-se “Mitrídates”. Sua vida inspirou a arte: o poema Terence, This Is Stupid Stuff de A. E. Housman e o romance O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas fazem alusão à Mitrídates. O dramaturgo francês Jean Racine dedicou-lhe uma peça, Mithridates (1673), e Mozart compôs uma ópera tendo o célebre rei do Ponto como tema: Mitridate, re di Ponto (1770). Mitrídates é o grande personagem em The Golden Slave (1960) de Poul Anderson e o protagonista de The Last King: Rome's Greatest Enemy ( 2005) de Michael Curtis Ford.

MITRÍDATES VI
Caro Filippo, fico feliz que o texto sobre Mitrídates VI do meu blog "Os Reis do Ponto" esteja fazendo parte, integralmente, de seu blog. Aliás, no meu texto eu cito as fontes ao fim. Como licenciando em história você poderia fazer o mesmo. Abraços.
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